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Doação de órgãos: um ato de solidariedade que transforma vidas

Por outro lado, um dado é ainda mais preocupante: a negativa familiar chega a 65%. Muitas pessoas que se recusam a doar os órgãos alegam diversas causas: superstições, medo de que sejam removidos ainda estando vivas ou, simplesmente, por serem desfavoráveis são os principais responsáveis por essa alta taxa.

Essas negativas interferem no destino de Ellen, moradora de Feira de Santana que descobriu o problema renal crônico em 2016. Três vezes por semana, a jovem realiza a hemodiálise. Desde agosto do ano passado, ela espera por um transplante de rim. “A gente faz a campanha pela doação de órgãos. Assim como ela, tem crianças renais, tem os adultos também. É muito importante”, afirmou a mãe de Ellen, Jocivane de Jesus.

Já Iago Gama é morador de Jeremoabo, nasceu com uma má formação na bexiga e precisa passar por frequentes sessões de hemodiálise. O garoto também está na fila, aguardando por um rim há mais de um ano.

“Eu quero muito que ele vá para escola porque ele está sem estudar. Ficar mais tempo em casa, porque como são muitas horas, a gente vive mais aqui no hospital do que em casa. Então, não dá para a gente descansar direito. A espera do transplante é para isso, para que ele tenha uma vida mais normal, para ir para a escola, brincar com os coleguinhas, ir para uma praia”, comentou a esperançosa a mãe do pequeno Iago, Robércia Gama.

Para conscientizar a sociedade acerca deste tema, durante todo este mês foram realizadas atividades alusivas ao Setembro Verde, de sensibilização e incentivo à doação de órgãos. Entre as ações, caminhadas, parcerias com shoppings e rodoviárias para divulgação de campanhas, e envolvimento de clínicas de hemodiálises e outras unidades de saúde. O “Dia D” de mobilização é nesta sexta-feira (27), quando é celebrado o Dia Nacional da Doação de Órgãos.

Gesto de solidariedade

Os aposentados Pedro Araújo da Silva e Lílian Barbosa são exemplos de pessoas que tiveram a vida transformada a partir do ato altruísta de doação de órgãos. Ambos receberam um novo rim.

“Para mim está bom. Não como muita coisa, infelizmente. Eu durmo bem e faço de tudo. Dirijo, tenho um carrinho. Vou pra longe, quatrocentos quilômetros rodando sozinho. Então, minha qualidade de vida é essa daí”, explicou Pedro, que mora em Simões Filho. Ele passou pelo transplante renal há três anos e, a cada dois meses, faz as revisões para avaliar o funcionamento do órgão.

Já Lílian, que completou nove meses de transplantada, se surpreendeu com a rapidez e a melhora na qualidade de vida. “Eu sofria muito porque não tinha acesso, pegava várias infecções. Quando eu cheguei aqui, fiz meus exames, com dois meses eu entreguei, com quatro meses eu tive essa notícia que eu fui chamada para fazer o transplante. Então, foi rápido. A minha recuperação está sendo ótima. Não sinto nada, graças a Deus, e estou livre daquela máquina [de diálise]. A vida, para mim, mudou, depois do transplante”, recordou Lílian.

Captação

De acordo com o coordenador do Sistema Estadual de Transplante, o médico Eraldo Moura, a baixa adesão às doações é um dado importante e que reflete a falta de conhecimento da sociedade.

“Quando a gente faz mais transplante e a sociedade percebe os benefícios, porque tem um amigo, tem um parente que foi transplantado, você mobiliza melhor essa sociedade, porque ela consegue ver os resultados do transplante. Então, é uma das linhas de trabalho hoje da Sesab ampliar o número de centros transplantadores e de equipes de transplante para que esses pacientes possam ser transplantados não só na capital, mas também de interiorização do programa”, considerou o médico.

“Além de ser um ato de solidariedade, um ato que a gente pode fazer, vivemos num país onde tem o maior sistema público de transplante do mundo, onde tem uma legislação de transplante extremamente segura, que todos os processos são feitos dentro dos critérios legais. Isso deixa a gente seguro para poder pensar nessa possibilidade de autorizar, para que o dia que a gente precise também possamos ser beneficiados”, completou Eraldo.

Unidades e critérios

Na Bahia, algumas unidades são referência neste tipo de procedimento. Os transplantes de fígado são realizados no Hospital São Rafael; e de rim, nos hospitais Ana Nery, Roberto Santos, Português, Aliança e Cardio Pulmonar, na capital, e unidades em Vitória da Conquista e Feira de Santana.

Podem ser doados órgãos ou tecidos de uma pessoa viva ou falecida, que serão utilizados no tratamento dos receptores, com a finalidade de restabelecer as funções de um órgão ou tecido comprometido ou doente. Não é necessário registrar a intenção em cartório, nem em documentos. É preciso informar este desejo aos familiares.

Para que a retirada seja efetivada, são realizados diversos exames, seguindo critérios rigorosos. Após a confirmação da morte encefálica, a família é consultada e orientada sobre o processo de doação. Já para doar em vida, o interessado precisa ser maior de idade e capaz, juridicamente. O médico deve avaliar a história clínica do candidato e as doenças prévias.

A Lei federal nº 9.434/2.007, regulamentada pelo Decreto nº 9.175/2.017, dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento.

Repórter: Anderson Oliveira/GOVBA

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