Pelo menos 95 pessoas morreram na inundação mais agressiva a atingir a Espanha em três décadas, depois que chuvas torrenciais caíram na região leste de Valência, varrendo pontes e prédios, disseram autoridades locais nesta quarta-feira (30).
Meteorologistas disseram que a chuva de um ano caiu em oito horas em partes de Valência na terça-feira (29), causando engavetamentos em rodovias e submergindo terras agrícolas em uma região que produz dois terços das frutas cítricas cultivadas na Espanha, uma das principais exportadoras globais.
Moradores dos lugares mais atingidos descreveram ter visto pessoas subindo nos tetos de seus carros enquanto uma maré agitada de água marrom jorrava pelas ruas, arrancando árvores e arrastando pedaços de alvenaria de edifícios.
“É um rio que passou”, disse Denis Hlavaty, que esperou pelo resgate em uma saliência no posto de gasolina onde trabalha na capital regional.
“As portas foram arrancadas e passei a noite lá, cercado por água com dois metros de profundidade.”
O primeiro-ministro Pedro Sanchez prometeu reconstruir a infraestrutura que havia sido destruída e disse em um discurso televisionado: “Para aqueles que neste momento continuam procurando por seus entes queridos, toda a Espanha chora com vocês.”
Imagens feitas por serviços de emergência de um helicóptero mostraram pontes que desabaram e carros e caminhões empilhados uns sobre os outros em rodovias entre campos inundados fora da cidade de Valência.
Trens para as cidades de Madri e Barcelona foram cancelados devido às enchentes, e escolas e outros serviços essenciais foram suspensos nas áreas mais atingidas, disseram autoridades.
A empresa de energia i-DE, de propriedade da maior concessionária de serviços públicos da Europa, a Iberdrola, disse que cerca de 150.000 clientes em Valência não tinham eletricidade.
Os serviços de emergência na região pediram aos cidadãos que evitassem todas as viagens rodoviárias e seguissem mais orientações oficiais, e uma unidade militar especializada em operações de resgate foi enviada a alguns lugares para ajudar os trabalhadores de emergência locais.
Algumas partes de Valência, como as cidades de Turis, Chiva e Buñol, registaram mais de 400 milímetros de chuva, levando a agência meteorológica estadual AEMET a declarar um alerta vermelho na terça.
Ele foi reduzido para âmbar na quarta-feira, conforme a chuva terminava.
Também ocorreram inundações em outras partes do país, incluindo a região sul da Andaluzia, e os meteorologistas alertaram sobre mais mau tempo à frente, pois a tempestade se moveu em direção nordeste.
O serviço meteorológico regional na Catalunha emitiu um alerta vermelho para a área ao redor de Barcelona, alertando sobre ventos fortes e granizo, enquanto a agência estadual AEMET colocou a cidade de Jerez, na Andaluzia, em alerta vermelho.
“(As enchentes) levaram muitos cães, cavalos, levaram tudo”, disse Antonio Carmona, um trabalhador da construção civil e morador de Alora, na região sul.
Pior enchente desde 1996
Parece ser o pior número de mortos na Europa por enchentes desde 2021, quando pelo menos 185 pessoas morreram na Alemanha.
É o desastre mais mortal relacionado a enchentes na Espanha desde 1996, quando 87 pessoas morreram perto de uma cidade nas montanhas dos Pireneus.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse no X que a Europa estava pronta para ajudar. “O que estamos vendo na Espanha é devastador”, publicou na rede social.
A ASAJA, um dos maiores grupos de agricultores da Espanha, disse na terça que esperava danos significativos às plantações.
A Espanha é o maior exportador mundial de laranjas frescas e secas, segundo o provedor de dados comerciais Observatory of Economic Complexity, e Valência é responsável por cerca de 60% da produção cítrica do país, conforme o Valencian Institute of Agriculture Investigations.
Cientistas dizem que eventos climáticos extremos estão se tornando mais frequentes na Europa devido às mudanças climáticas.
Meteorologistas acham que o aquecimento do Mediterrâneo, que aumenta a evaporação da água, desempenha um papel fundamental em tornar as chuvas torrenciais mais severas.
“Eventos desse tipo, que costumavam ocorrer com muitas décadas de intervalo, agora estão se tornando mais frequentes e sua capacidade destrutiva é maior”, disse Ernesto Rodriguez Camino, meteorologista sênior do estado e membro da Associação Meteorológica Espanhola.
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