Histórias comoventes de pessoas abandonadas pela falta de estrutura e cuidados adequados devido às suas deficiências intelectuais e/ou físicas fazem parte da Instituição Lar Fonte da Fraternidade e Centro de Humanização para Pessoas com Deficiência, que há mais de 20 anos cuida desse público em situação de vulnerabilidade social. O compromisso com a fé e o cuidado aos mais vulneráveis são reafirmados na oração antes das refeições e na sutileza do tratamento aos dez acolhidos pela instituição localizada na Capelinha de São Caetano, em Salvador.
Atualmente, a instituição conta com cerca de 40 voluntários que auxiliam nas áreas de acessibilidade, saúde, segurança alimentar e nutricional, desenvolvimento social, psicologia, educação, assistência social, dentre outras. O local é referência de lar para aqueles que desconhecem sua identidade e origens; ou para quem ainda tem recordações e sofre em datas especiais como Dia das Mães e Natal, segundo a irmã Maria Lúcia Gomes, freira responsável pela instituição. “Alguns ainda têm a mente preservada e sentem essa dor do abandono”, explica.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil conta com 18,6 milhões de pessoas com deficiência, representando 8,9% da população acima de dois anos, conforme a Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) de 2022. Entre os tipos mais comuns estão as deficiências motoras, visuais e cognitivas. Diante desse cenário, é indispensável a atuação de cuidado integrativo das casas de acolhimento a essas pessoas.
Para ampliar essa rede de solidariedade, a Instituição Lar Fonte da Fraternidade firmou uma parceria com o Programa Bahia.Estado Voluntário, uma iniciativa que conecta ações e projetos do terceiro setor com pessoas interessadas em se voluntariar.
Entenda como funciona a parceria
A Instituição Lar Fonte da Fraternidade utiliza a ferramenta do Programa Bahia.Estado Voluntário para cadastrar projetos e campanhas, solicitando voluntários para atuarem no acolhimento dos internos. Ao captar voluntários, a instituição fica responsável pelo treinamento e pela supervisão das atividades dos novos colaboradores. Com essa parceria, a instituição adquire mais visibilidade para somar na corrente do bem.
Além do acolhimento aos residentes, a instituição concede atendimento gratuito à comunidade local, como serviços de psicologia e assistência social. Uma das voluntárias é a nutricionista Tilda Queiroz, que fala sobre sua experiência nessa jornada de compaixão e ajuda ao próximo. “Muitos me julgam como se o voluntariado fosse um erro por não ter dinheiro envolvido. Eu digo a essas pessoas que ser voluntária é um dom de Deus. É um aprendizado constante”, reflete.
Além da instituição, Tilda já foi voluntária na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), em São Paulo. Atualmente, ela também é voluntária em uma instituição voltada para dependentes químicos e dá apoio nutricional para a comunidade, principalmente para diabéticos e hipertensos.
A coordenadora do Programa Bahia.Estado Voluntário, Kátia Camilo, ressalta a importância de prestigiar os voluntários que doam seu tempo e habilidades em prol de uma causa. “Temos que valorizar essas pessoas especiais que têm suas próprias vidas e vão servir aos outros por amor. São pessoas que vêm para somar com a sociedade”, argumenta.
Conceito de Residências Inclusivas
A Instituição Lar Fonte da Fraternidade é considerada uma Residência Inclusiva. De acordo com o Sistema Único de Assistência Social (Suas), a Residência Inclusiva é uma unidade que oferta serviço de acolhimento integrativo e de alta complexidade para jovens e adultos com deficiência, em situação de dependência e sem condições de autossustentabilidade.
São locais adaptados, com estrutura física, equipe especializada e metodologia adequada para prestar atendimento personalizado e qualificado aos internos. Conforme o Suas, é recomendado que a capacidade de atendimento não ultrapasse dez jovens e adultos com deficiência, justamente para assegurar o atendimento personalizado. É o que reforça a irmã Maria Lúcia Gomes.
“Sem sensibilização e humanidade esse trabalho é inviável. O conhecimento é importante, a técnica também, mas para nós que lidamos com gente que depende da gente, tratar as pessoas com amor e dignidade é fundamental. É uma missão espiritual e social porque lidamos com vidas, e nossa vida só tem sentido quando cuidamos de outras pessoas”, conta.
A freira explica que no Brasil existem outras instituições que realizam trabalho similar, porém, como a demanda é grande, toda ajuda é bem-vinda. “Dói no coração ver essas pessoas abandonadas por causa de suas deficiências. A lista de espera para morar em um lugar como esse é grande. Infelizmente não temos estrutura para atender todas essas pessoas”, lamenta.
Plataforma Bahia.Estado Voluntário
Participar é fácil: cadastre-se na plataforma com seus dados pessoais, disponibilidade e áreas de interesse. Entidades públicas ou privadas também podem cadastrar projetos e informar suas necessidades de voluntários. Quando os dois lados coincidem, acontece a intermediação.
Desenvolvido pela Secretaria da Administração (Saeb), o programa foi lançado em 2019 e já conta com mais de 23 mil voluntários e quase 3 mil projetos cadastrados. Visite www.estadovoluntario.ba.gov.br e conheça essa iniciativa que promove a cultura do voluntariado.
Foto: Ascom/Saeb
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