O primeiro dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) abordou temas como inclusão, equidade de gênero, diversidade, racismo e desigualdades social e econômica. A escolha dos assuntos foi elogiada à CNN por professores que analisaram e compararam diversos aspectos da avaliação deste domingo (5).
“De maneira geral, a prova teve temas muito atuais e pertinentes, como Paulo Freire, por exemplo. A prova deste ano trouxe temas muito relevantes para os cenários brasileiro e internacional”, avaliou Karoline Barreto, professora de artes do Sistema Positivo de Ensino.
A prova foi aplicada em todo o Brasil pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
“A questão da mulher foi abordada de diferentes maneiras. Teve a questão da violência contra a mulher, a questão sobre violência patrimonial — com a Lei Maria da Penha — a própria redação que trouxe, de alguma forma, o tema da mulher. Também houve questões que abordavam a equidade de gênero e uma questão muito bacana sobre o trabalho da Lina Bo Bardi no Masp e como esse trabalho só foi reconhecido agora, de maneira póstuma”, comentou a professora.
A prova também trouxe questões relacionadas à diversidade e inclusão. Entre elas, Karoline Barreto destaca algumas como a de Educação Física que trouxe o caso de uma atleta olímpica transgênero.
“No componente de Educação Física, foram cinco questões, na média dos outros anos. A questão sobre diversidade de gênero e inclusão esteve bem presente.”
Já nas línguas estrangeiras, ela apontou também o uso de gêneros textuais diferentes como poema, cartum, cartaz de campanha publicitária, cinema, música. Nesses materiais, ela disse que a atualidade dos temas se sobressaiu.
“Foram muito atuais, como a diversidade ou a não-diversidade no ambiente de trabalho; a questão da inclusão, com o filme “Como Estrelas na Terra”, que é um filme genial, e ele foi abordado em uma questão de língua espanhola; a questão da mulher, a questão da solidão, a questão da propagação de informações também esteve presente”, disse.
Já as provas de literatura e língua portuguesa, que apresentou textos conhecidos do segmento, abordaram a variação linguística. “Houve uma questão muito bacana sobre a língua brasileira de sinais”, observou Karoline Barreto.
Em ciências humanas e suas tecnologias, a professora avaliou que foi mantida a coerência temática de toda a prova.
“A gente teve diversas questões sobre racismo, preconceito, diversidade de gênero, temas muito atuais, questões sobre desigualdade social e econômica, questões internacionais sobre o acordo do Mercosul e da União Europeia, sobre a comunicação entre a Coreia do Sul e a Coreia do Norte”, afirmou. “Outra questão internacional superbacana foi sobre os territórios chineses, o agronegócio, o capitalismo, o pensamento capitalista com o [filósofo alemão Theodor] Adorno, tudo isso esteve presente na prova de ciências humanas”, completou a professora.
Redação
O tema da redação deste ano, seguindo a mesma linha, foi Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil.
Fábio Gusmão, professor de redação e língua portuguesa do Sistema Positivo de Ensino, analisou que o tema abriu espaço para o estudante falar sobre a dupla jornada de trabalho da mulher.
“A mulher trabalha fora e dentro de casa, ela faz todos os afazeres domésticos. É a mulher também que, muitas vezes, cuida dos seus pais idosos ou, até mesmo, de filhos”.
Havia possibilidade ainda, segundo o professor, de falar do cuidado dessa mulher com pessoas com deficiências.
Fábio Gusmão concluiu ainda que o tema da redação abriu uma oportunidade de discussão de questões contemporâneas da realidade da mulher brasileira.
“É a mulher que faz, de fato, tudo isso. E, ao mesmo tempo, nada disso é, digamos, valorizado. Então, eles poderiam abordar esses aspectos de tudo isso que a gente consegue visualizar na sociedade de hoje e, certamente, esse trabalho que não é visível perante à nossa sociedade.”
VÍDEO – Lula visita sala de monitoramento do Enem e garante que alunos não serão prejudicados
*Publicado por Pedro Jordão, da CNN em São Paulo
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