Em setembro, quase todas as regiões do Brasil têm apresentado níveis de umidade relativa do ar extremamente baixos, iguais ou inferiores a 10%
Um levantamento da empresa de meteorologia MetSul divulgado nesta sexta-feira (6), mostra que grande parte do Brasil registra atualmente níveis de umidade do ar menores que as do Saara, no norte da África. Enquanto o país vive uma estiagem prolongada, partes do deserto vêm mostrando índices de umidade muito altos para os padrões locais, com possibilidade de chuvas excepcionalmente raras para o período. Em setembro, quase todas as regiões do Brasil têm apresentado níveis de umidade relativa do ar extremamente baixos, iguais ou inferiores a 10%.
Na sexta-feira (6), o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) manteve o alerta laranja de perigo para baixa umidade do ar no Distrito Federal, em São Paulo e em outros 15 Estados. O órgão federal registra ainda alerta amarelo, de perigo potencial para baixa umidade, em três Estados: Rio de Janeiro, Santa Catarina e Paraná. No momento, há uma massa de ar excepcionalmente seca atuando sobre o Brasil.
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Segundo o comunicado da MetSul, é normal que a região central do país registre baixa umidade nesta época do ano, mas a situação foi agravada por alguns fatores: uma estiagem prolongada em várias partes do território, com a estação seca iniciando mais cedo, e baixa frequência de frentes frias alcançando a porção central do Brasil.
O ciclo se retroalimenta com a menor umidade do solo, devido ao volume baixo de chuvas, e temperaturas elevadas. O tempo seco tem contribuído para a redução do nível dos rios, especialmente na Amazônia, e para alerta de risco de incêndios em várias regiões do País, incluindo o interior de São Paulo. De acordo com o Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Brasil registrou 8.225 focos de incêndio nas últimas 48 horas em todos os biomas, com uma ou várias frentes ativas de fogo.
A análise da MetSul se baseou em dados de observação em superfície e modelos numéricos. Na primeira abordagem, foram levantados dados de estações de aeroportos nas capitais dos países situados na região desértica do Norte da África. Os menores índices de umidade registrados nesses locais na quinta-feira, 5, foram: 36% no Cairo (Egito), 52% em Niamey (Níger) e em Argel (Argélia), 59% em Bamako (Mali) e 84% em N’Djamena (Chade).
A estratégia foi usada devido às limitações do monitoramento no deserto, por se tratar de uma região predominantemente desabitada, e também devido a conflitos nesses países, explica a MetSul.
A empresa também comparou a umidade relativa do ar no Brasil e no Saara durante a tarde de sexta-feira, 6, através de modelos de computador, confirmando que o deserto está mais úmido que o País.
Mapas do modelo norte-americano GFS indicam que a umidade do ar está alta em muitas áreas do Centro e em direção ao Leste. Na região do Sahel, mais ao Sul, os índices de umidade estão muito altos para os padrões locais. O mais seco é o setor a Oeste do Saara.
Modelos de computador têm mostrado uma quantidade recorde de chuvas no Saara, que tem uma média de apenas 7,62 centímetros de precipitação ao longo de todo o ano. Nas primeiras semanas de setembro, algumas partes do deserto têm recebido cinco vezes o volume médio de chuva para agosto e setembro, com algumas áreas preparadas para ter precipitações registradas pela primeira vez nesses meses.
O episódio raro, que costuma acontecer uma vez a cada década, pode trazer bolsões de inundação a partes do Chade, Líbia, Níger e Argélia neste ano. Metade do Saara recebe menos de 2,54 centímetros de chuva anualmente.
Sob condições normais, um sistema de alta pressão semi-estagnado traz ar descendente para o Saara, que se aquece e seca. O afundamento também esmaga quaisquer bolsões de ar ascendentes, necessários para gerar nuvens e tempestades. É por isso que o deserto normalmente é tão quente e seco.
Mas uma faixa de baixa pressão – conhecida como Zona de Convergência Intertropical – está trazendo tempestades para regiões onde não costumam ocorrer. Mali e Mauritânia estão entre as regiões que estão recebendo chuvas acima da média devido a esse fenômeno, que ainda deve se voltar para o Oeste e Norte da Argélia.
*Com informações do Estadão Conteúdo
Publicado por Carolina Ferreira
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