O aumento expressivo de casos de coqueluche em 2024 preocupa as autoridades de saúde no Sudeste. Estados e municípios passaram a seguir orientações do Ministério da Saúde, que associa diretamente o crescimento dos casos com a falta de vacinação.
No Rio de Janeiro, a Secretaria Estadual de Saúde registrou um aumento de mais de 300% de casos da doença até julho deste ano, comparado ao ano de 2023 inteiro. Em São Paulo a situação é ainda mais alarmante: apenas na capital houve um aumento de 1178% nos primeiros seis meses do ano. Foram 165 casos na cidade, frente aos 14 registrados no mesmo período do ano passado, segundo a Secretaria Municipal da Saúde.
Além do Brasil, países da União Europeia também vêm registrando aumento nos casos da doença, o que gerou um alerta mundial com o início dos Jogos Olímpicos de Paris em duas semanas. Segundo o Boletim Epidemiológico do European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC), entre janeiro e março de deste ano, mais de 32 mil casos de coqueluche foram registrados em pelo menos 17 países do bloco.
O professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense (UFF), André Ricardo Araujo da Silva, afirma que a crise de desinformação está diretamente ligada à crise sanitária enfrentada no Brasil e na Europa.
“O aumento de casos é resultado de uma combinação de fatores. Um deles é o movimento antivacina, que tem sido um problema desde o lançamento das vacinas. Com o avanço da internet nos últimos 10 a 15 anos, a disseminação de informações falsas aumentou, levando muitos pais a não vacinarem seus filhos. Além disso, a proteção da vacina diminui com o tempo.”
O que é a coqueluche?
Coqueluche é uma doença infecciosa causada pela bactéria Bordetella pertussis, e apenas o ser humano pode contraí-la. Transmitida pelo ar, a doença se espalha facilmente quando uma pessoa infectada tem tosse ou espirra.
Os sintomas se assemelham ao de um resfriado comum, com coriza, mal-estar, crises de tosse intensa e característica e vômitos, em crianças pequenas. Apesar da febre ser considerada leve, a duração dos sintomas pode variar entre seis e dez semanas. O diagnóstico da doença só é feito por meio de exames laboratoriais específicos para identificar a presença da bactéria causadora da coqueluche, o que pode gerar inclusive uma subnotificação de casos da doença.
O tratamento é feito com antibióticos e medidas para atenuar os sintomas, mas é consenso das autoridades globais que a única prevenção é a vacinação.
O Ministério da Saúde afirma que “a imunidade à doença é adquirida quando [crianças] tomam as três doses da vacina, sendo necessária a realização dos reforços aos 15 meses e aos 4 anos de idade. Pode ser que o adulto, mesmo tendo sido vacinado quando bebê, fique suscetível novamente à doença porque a vacina pode perder o efeito com o passar do tempo.”
Orientações da pasta para estados e municípios incluem a ampliação dos grupos que devem ser vacinados contra coqueluche, como funcionários de berçários e creches. Segundo a Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo, a imunização contra a doença faz parte da vacina Pentavalente, cuja cobertura vacinal está um pouco abaixo da meta de 95%.
Para o professor Ricardo Araújo da Silva, que também é membro da Federação Internacional de Controle de Infecção (IFIC), “é crucial educar as famílias sobre a importância de manter o esquema vacinal atualizado e estimular a vacinação não apenas contra a coqueluche, mas contra todas as doenças preveníveis por vacina”. Segundo ele, apenas garantindo uma cobertura vacinal ampla é possível proteger a população.
Sob supervisão
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