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Com melhora do emprego e Auxílio Brasil, desigualdade cai em 2022 para menor nível da série histórica

Após crescer em 2021 para 0,544, o índice de Gini — número que mede desigualdade de renda — do rendimento médio mensal domiciliar per capita caiu em 2022, atingindo a marca de 0,518, o menor da série histórica. Quanto maior o Gini, maior a desigualdade.

O dado foi divulgado nesta quinta-feira (11) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Já o Gini do rendimento médio mensal de todos os trabalhos caiu de 0,499 para 0,486, atingindo também seus menores valores, na média do país e em quase todas as regiões.

Com isso, a desigualdade de rendimentos diminuiu no conjunto da população e também na população ocupada.

Segundo a analista Alessandra Brito, em nota do IBGE, “a entrada de quase 8 milhões de pessoas na população ocupada puxou a média de rendimento para baixo, mas aparentemente essas pessoas ingressaram no mercado de trabalho recebendo vencimentos com valores similares, o que resultou numa distribuição menos desigual. Além disso, o rendimento médio dos trabalhadores sem carteira e por conta própria aumentou no período, também contribuindo para essa queda no índice de desigualdade”.

Apesar da redução no Gini, a desigualdade permanece: em 2022, o rendimento médio domiciliar per capita do 1% da população que ganha mais era de R$ 17.447. Isso equivale a 32,5 vezes o rendimento médio dos 50% que ganham menos (R$ 537), uma desigualdade muito grande, ainda que, em 2021, essa razão fosse de 38,4 vezes.

“A queda brusca dessa razão para o menor patamar da série histórica reflete um pouco tudo que observamos. Muitas pessoas voltaram para o mercado de trabalho, os muito pobres estão recebendo um auxílio que se compara ao auxílio emergencial em valor, e o 1% mais rico teve uma pequena redução no rendimento”, sintetiza Brito, em nota à imprensa.

A pesquisa mostra que a metade da população com os menores rendimentos recebeu, em média, R$ 537, uma alta de 18% em relação a 2021, quando o rendimento dessa metade da população chegou ao menor valor da série histórica: R$ 455.

De 2021 para 2022, o rendimento domiciliar per capita cresceu em quase toda a distribuição, mas principalmente na primeira metade. Já o 1% com os maiores rendimentos teve pequena perda (-0,3%).

Auxílio Brasil

Ainda em 2021, mudanças na política de concessão do auxílio emergencial fizeram com que voltasse a aumentar o percentual de domicílios com alguém recebendo Bolsa Família (8,6%) e se reduzisse a proporção dos que recebem outros programas sociais (15,4%).

Já em 2022, a interrupção do pagamento do auxílio emergencial e a criação do Auxílio Brasil ajudam a explicar parte do aumento percentual de domicílios recebendo este programa (16,9%) e a redução na categoria “Outros programas sociais” para 1,5%.

Essas oscilações tão amplas podem indicar migrações para um benefício mais vantajoso durante a pandemia ou decorrer de eventuais dificuldades dos informantes da pesquisa em identificar corretamente qual benefício recebiam.

“A categoria de outros programas sociais, que incluía o Auxílio Emergencial, retornou ao seu patamar histórico de menos de 2% na pesquisa. Já na rubrica onde captávamos o Bolsa Família e onde é captado o Auxílio Brasil neste ano, se compararmos com o pré-pandemia, podemos ver que a proporção de pessoas beneficiadas aumentou de 14,3% em 2019 para 16,9% em 2022”, explica Brito.

Renda ainda em queda

O rendimento médio mensal domiciliar per capita foi de R$ 1.586 em 2022, crescendo 6,9% frente a 2021, quando havia atingido o menor valor da série histórica (R$ 1.484), após dois anos de quedas durante a pandemia de Covid-19.

Em 2022, a massa do rendimento mensal real domiciliar per capita subiu 7,7% ante 2021, chegando a R$ 339,6 bilhões em 2022. A região Nordeste segue com menor rendimento médio mensal domiciliar per capita (R $1.011), enquanto a Sul segue com o maior (R$ 1.927).

Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua: Rendimento de todas as fontes 2022, divulgada nesta quinta-feira pelo IBGE.

O rendimento médio mensal real da população residente com rendimento de todas as fontes foi de R$ 2.533, 2,0% maior que em 2021 e 2,6% menor que no início da série, em 2012. O de todos os trabalhos ficou em R$ 2.659, caindo 2,1%.

Já o de outras fontes cresceu 12,1%, alcançando R$ 1.657 em 2022, com o item aposentadoria e pensão mantendo-se com a maior média em 2022 (R$2.161) e destaque para o item outros rendimentos, subindo de R$ 562 para R$ 814 (alta de 44,8%), alcançando o maior valor da série.

Já o rendimento médio mensal da categoria Aluguel e arrendamento caiu de R$ 1.989 em 2021 para R$ 1.755 em 2022, menor valor da série. Esse movimento foi acompanhado pelas regiões Nordeste, Sul e Sudeste, a última apresentando a maior queda, de R$ 2.261 para R$ 1.815.

“Essa foi a primeira vez que essa categoria ficou abaixo dos dois mil reais na região Sudeste, em uma grande queda. Uma possível explicação pode ser a inflação. Conseguimos perceber esse movimento também em outras categorias.

Alguns itens não são reajustados segundo a inflação, o que causa essa corrosão”, diz Alessandra Brito, analista da pesquisa.

O percentual de pessoas com algum tipo de rendimento na população do país subiu de 59,8% em 2021 para 62,6% em 2022. Houve crescimento em todas as regiões e o Sul teve a maior estimativa (67,0%), enquanto a região Norte contou com a menor (55,9%).

Cresceu também o percentual de pessoas com rendimento de todos os trabalhos, indo de 41,1% em 2021, para 44,5% em 2022, o que evidencia o aumento de ocupação no país. Em contrapartida, no mesmo período caiu de 24,8% para 24,4% o percentual das pessoas com rendimentos de “Outras fontes”.

Dentro do segmento “Outras fontes”, 13,3% (28,5 milhões de pessoas) da população residente recebia “Aposentadoria e Pensão” em 2022, enquanto 8,9% recebia “Outros rendimentos”, 2,0% recebia “Pensão alimentícia, doação ou mesada de não morador” e 1,7% “Aluguel e arrendamento”.

Considerando-se o rendimento domiciliar per capita da população, a participação do rendimento de “Todos os trabalhos” era de 74,5% e a de “Outras Fontes”, 25,5%.

Dentro do segmento de “Outras fontes”, 18,1% iam para “Aposentadoria e Pensão”, 1,9% para “Aluguel e Arrendamento”, 0,9% para “Pensão alimentícia, Doação e Mesada de não-morador” e 4,6% para “Outros rendimentos”.

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